01/12/2017
Nos últimos meses houve uma revolução nas diretivas médicas internacionais sobre a transmissão do HIV/SIDA. As grandes organizações mundiais na área da saúde concordam agora que indivíduos com carga viral suprimida não podem transmitir a doença. A médica e especialista portuguesa Jacinta Azevedo (trabalha com doenças contagiosas desde antes do aparecimento do VIH/SIDA) está preocupada com as consequências da mudança de perceção pública em torno da transmissão do VIH.
Segundo o Centro de Controlo e Prevenção da Doença, os doentes VIH/SIDA que tomem a medicação diária e «apresentem uma carga viral suprimida não correm qualquer risco de transmitir o vírus VIH.»

Apesar de reconhecer a importância da atenção dada às pessoas doentes, que «precisam de ter acesso aos cuidados e têm direito a não enfrentar discriminação», a médica Jacinta Azevedo está preocupada com a falta de foco na prevenção.
«Este problema é uma moeda de duas faces. Foi uma ótima notícia quando surgiu a terapêutica anti-retroviral de alta potência porque melhorou a esperança de vida daqueles que estavam “condenados”. Por outro lado, se a doença não é mortal, já não há tanto medo, já não é preciso protegermo-nos. A minha grande preocupação é com aqueles que ainda não foram infetados»,” diz.
Consciente de que está a fazer uma declaração «politicamente incorreta», a imunologista arrisca uma previsão. «Quando o Centro de Controlo e Prevenção da Doença e a Organização Mundial de Saúde põem como meta ter doentes infetados sob tratamento na esperança de que a transmissão não se faça, isso preocupa-me porque leva muitas pessoas a acreditar que não precisam de usar preservativo. É um facto que a transmissão é menor, mas não é nula. O VIH pode vir a aumentar por aumento de contactos sexuais não protegidos», diz.
Jacinta Azevedo diz que a população mais vulnerável neste momento em Portugal é «a população sexualmente ativa».
Um relatório divulgado esta semana pelo Centro Europeu para a Prevenção e Controlo da Doença (ECDC) e pelo Gabinete Regional para a Europa da Organização Mundial de Saúde (OMS-Europa) concluiu que Portugal está entre os países da Área Económica Europeia que apresentam mais casos de diagnósticos tardios para a infeção com o vírus VIH, entre os adultos mais velhos: acima dos 50 anos.
Para a imunologista, a vulnerabilidade dos jovens deve-se à ineficácia «das mensagens de saúde pública e informação sexual» que os atingem. A este propósito, Jacinta Azevedo refere vários mitos que lhe chegam nas consultas.
«Há o mito de que quem tem parceiro fixo não tem risco, o mito de que só os toxicodependentes ou as prostitutas correm risco, o mito de que conheço bem certa pessoa, que tem bom aspeto e portanto não preciso de me proteger», diz.
«Começámos por dizer que havia grupos de risco, depois passámos a falar de comportamentos de risco. Mas eu atrevo-me a falar num novo grupo de risco, o dos confiantes.»
Agora quando as pessoas são infetadas a resposta quase a 100% é “porque confiei”».
Fonte: Adaptado de Notícias Magazine
Notícia integral em: https://www.noticiasmagazine.pt/2017/sida-ha-um-novo-grupo-risco-os-confiantes/
Consultado em: 01/12/2017